quarta-feira, 29 de maio de 2013

O empreendedorismo no limite

 

Caros leitores, estreio nesta coluna abordando um tema que vivencio não apenas na própria pele, mas também na observação cotidiana, acompanhando as histórias de coragem, triunfo e fracasso desses seres abnegados e voluntariosos. Os empreendedores.
 
Como observarão, não sou afeto e nem mesmo um agente da ditadura do politicamente correto, o que não significa que seja necessariamente politicamente incorreto - a antítese aqui não se configura como um consequência natural – mas tento trazer aos meus textos uma abordagem crítica que nasce da reflexão sobre aquilo que parece ser natural e facilmente aceito pelo senso comum - ou lugar comum -  como outros ainda mais incisivos e cáusticos do que este que vos escreve denominariam.
A literatura especializada, assim como os conteúdos publicados que abordam a vida destes pioneiros empresariais, é repleta de casos de sucesso e superação, com impressionantes reviravoltas. As histórias revelam um guerreiro estoico e obstinado, preparado para vencer a tudo e a todos. Tudo lindo e empolgante, mas é uma pena que não reflita a realidade.
 
O fato é que esse personagem tão especial acostumou-se a encarnar essa imagem criada pelas perigosas generalizações, onde expressões como “Problemas? Riscos? Complicações? Ótimo eu adoro vencer desafios !” passaram a fazer parte dos perigosos (agora sim) lugares comuns, onde a realidade geralmente é camuflada por um teatro de performances. Mas independentemente de eventuais encenações, os empreendedores de uma forma geral simplesmente não suportam mais a carga de cobranças, chateações oficiais, e aporrinhações que recaem sobre as suas costas. 
 
Somos permanentemente empurrados para a linha de frente da solução de problemas. Empurrados para tratar das questões sociais, cobrados a adotar procedimentos sustentáveis, inqueridos sobre os estímulos socialmente responsáveis que estamos disponibilizando aos nossos colaboradores e instados à criação de um cenário fértil para a inovação.  Mas quase ninguém nos empurra para cobrar a exigir direitos.  
 
Não basta a carga tributária infernal - e para alguns verdadeiramente insuportável – sem retorno em bons serviços públicos, em infraestrutura, saúde, segurança, educação etc. Não bastam as dificuldades resultantes de não podermos contar com uma mão de obra qualificada, nem mesmo a falta de incentivos tributários reais e a existência de uma antológica, firme e sólida burocracia, que como resultante criam um cenário desastroso para tomada de riscos. 
 
Qual é o motivo de tantas cobranças e tanta expectativa depositada? A resposta é simples: O nosso distanciamento das questões públicas, que no final das contas nos afetam diretamente, o nosso excessivo apego com o curtíssimo prazo e suas inerentes e objetivas questões, a nossa ilusão em achar que o poder de fato reside apenas nas mãos do empresariado e seus retumbantes resultados, somada a imagem pública de nossa invencibilidade, reduziram a nossa capacidade de existir exigindo, e em troca disso passamos a existir absorvendo, tal qual uma esponja grossa e resistente. Sem tempo para pensar, refletir e acumular indignação.
 
Algo como: “Trabalhem, ganhem seu dinheiro e depois paguem uma considerável parte em impostos e outras contribuições! Não percam seu precioso tempo pensando.”
 
Questiono: a quem interessa a nossa despolitização? Quem ganha com a nossa desunião? A carapuça que insistem em colocar em nossas cabeças nos serve? 
 
A mesma sociedade que nos enxerga tão repletos de energia e apetite pelo risco, acaba por nos convocar para solucionar, com criatividade, esforço e dinheiro, aqueles problemas que já deveriam estar, se não solucionados, ao menos a caminho da solução. 
 
Seria essa mesmo a nossa melhor contribuição?
 
Que tal usarmos os nossos atributos para ao invés de aceitar passivamente a montanha de cobranças, passarmos a refutá-las e na contra-ofensiva, efetivar reclamações e exigências? Com criatividade, apetite pelo risco, inovação, energia, disciplina e capacidade de organização?
 
Trata-se de uma conta que não fecha. A nossa eficiência e a nossa disposição jamais compensarão a ineficiência pública de nossas instituições. É urgente a necessidade de invertermos essa lógica, caso contrário, jamais seremos uma potência em valor agregado, governos e poderes instituídos eficientes e servidores aos seus contribuintes, qualidade de vida, oferta de oportunidades e cidadania.
 
Somos pioneiros, ambiciosos e determinados. Mas não somos mágicos.
 
Até o próximo.
Gustavo Chierighini
Gustavo Chierighini é empresário, fundador das empresas Plataforma Brasil Investimentos e Plataforma Brasil Editorial....

Fonte: Baguete

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